quarta-feira, 28 de julho de 2010

E,por falar em pizza...Crônicas da cidade plural

Eu acho que as Colas chegaram antes.
Sei que Getúlio Vargas assinou o decreto em 1939 modificando a permissão do uso de aditivos químicos em refrigerantes
Para mim a bebida surgiu num belo dia de sol, hora do recreio, quando uma multidão de pequenos seres confusos corria de um lado para outro no grande pátio do Dante Alighieri e foi organizada rapidamente em longas filas à espera cada um da sua pequena garrafa (quente) do refresco desconhecido.
De graça!
Final dos anos quarenta, com certeza.
E o irreverente João Cardoso proclamando em tom canalha:
-Uma Cola bem gelada .... faz efeito na privada!
Quanto a pizza, recorro ao Frederico Branco, em seu Postais Paulistas.
Para ele, não interessa como e quando a pizza chegou a São Paulo.
Bairrista, fixa-se na data em que conheceu a redonda (que hoje também pode ser quadrada) no espigão da avenida Paulista: 1943.
Mais exatamente na praça Oswaldo Cruz, no mesmo lugar onde, anos depois, foi construída a já falecida loja da Sears Roebuck e agita, hoje, um Shopping muito freqüentado.
Pois ali, uma faixa alardeava a inauguração da Pizzeria Surpreza!
E, na mesa que ocupou, viu-se diante do aroma “feito de azeite de oliveira, massa bem assada, queijo fundido no forno, orégano e uma ameaça de alho”.
A pizza de mozzarella! É claro, acompanhada por algumas garrafas de Hamburguesa gelada.
Entre as três marcas que poderia escolher: Hamburguesa, Brahma ou a marca barbante ... a que amarrava a rolha com barbante para não explodir, então já domada pela chapinha de metal.
Dali para o Paulino escorregar Pamplona abaixo, foi um minuto. Precisamente três anos.
Meu pai, amazonense afeito à culinária do norte, encantou-se com o aliche do Paulino.
Era aliche ou mozzarella. Só.
Eu detestava aquele peixinho espinhento, salgado e estranho, artisticamente disposto sobre a camada fina de molho de tomate.
Minha mãe, quando era ela a pedir, recomendava meio-a-meio, tímida demais para pedir: mezzo-a-mezzo.
Porém meu pai comandava quase sempre, e então era só aliche.

Cresci, casei e mudei para o Brooklin.
Onde descobri a pizzeria Esperanza e a pizza Margarita, uma sublimação do pesto, acrescentando aos aromas lembrados pelo Frederico Branco o suave olor do manjericão.
Uma sala quadrada, na avenida Morumbi, não muito grande, com seis ou sete pequenas mesas, um balcão e uma minúscula cozinha.
Parede de vidro fosco separava o salão da calçada.
E, maravilha das maravilhas, um pão de lingüiça divino!
O pão sempre chegava antes da pizza, que aceitávamos já sem fome, ao contemplar os maravilhoso “triângulos dourados” migrarem para os nossos pratos.
Os convivas variavam, porém a velha piada era sempre a mesma:
- Garçom, não corte em oito pedaços. Corte em seis, porque já estamos sem fome!
E tome azeite por cima!
Tempos depois minha filha mais velha casou com um carioca.
Uma bela noite, a família inteira na pizzaria!
Então, o máximo da heresia, ação que condenava imediatamente para a fogueira sem passar pelo Santo Oficio nem nada: o novo membro da família, carioca de nascimento, pediu o Ketchup, e derramou abundantemente sobre a Margarita!
Meu neto mais velho nasceu e cresceu praticamente sem conhecer o pai. Um ou outro telefonema e olhe lá.
Casamento desfeito, o ex-genro voltou para o Rio de Janeiro, e não viu o filho crescer.
Pois bem.
Noutra bela noite, bem distante no tempo da primeira, reunidos em família, meu neto, com oito anos de idade, ao ser servido do seu triângulo dourado pediu... o Ketchup! Que derramou abundantemente sobre a Margarita. Enormes e gordas manchas vermelhas sobre o dourado da pizza. Diante do profundo silêncio familial!
Freud explica?
O resto a respeito das pizzas todo mundo sabe mais e muito melhor do que eu.

Larry Coutinho

Nenhum comentário:

Postar um comentário