terça-feira, 23 de agosto de 2011

O sonho de todos nós: Xanadu - Crônicas da cidade plural.

Nunca sei se o grande escritor argentino Jorge Luís Borges fala sério quando faz um relato histórico ou simplesmente recria a verdade, com sua maneira travessa e fantástica de tratar a realidade.
Entretanto Samuel Taylor Coleridge tem consistência real. Foi literato e poeta inglês (1772-1834) e autor, por exemplo, de Baladas líricas e de Baladas do antigo marinheiro, os primeiros grandes poemas da era romântica. Mais tarde Coleridge escreveu o poema simbólico Kubla Khan.
Onde encontrei a primeira referência literária a Xanadu:

“In Xanadu did Kubla Khan
A stately pleasure dome decreei
Where Alph, the secred river, ran
Trough caverns measureless to man
Dow to a sunless sea (...)”

Xanadu (Shang-tu), em Coleridge, é uma região na qual o imperador chinês Kubla Khan (1215-1294) construiu o palácio sobre o qual havia sonhado anteriormente.
E o poema reveste-se de “fantasmagoria onírica, entremeando forma e sentido em hipnótica geografia de cintilantes epifanias”.
Segundo Borges, no verão de 1797, retirado no campo inglês numa tarde langorosa e crepuscular o poeta Coleridge cochilava. Ia embalado por uma forte dose de láudano (extrato de ópio que possui efeito sedativo), enquanto lia um relato no Purchar’s Pilgrimage que tratava da construção do célebre palácio.
Finalmente Coleridge adormeceu, e em sua semiconsciência a descrição lida transformou-se numa cornucópia de imagens iridescentes, refletindo todas as cores do arco íris.
Ao acordar Coleridge concebeu um poema de trezentos versos e começou a escrevê-lo em seguida.
Entretanto, depois de estruturar perto de cinqüenta versos, foi interrompido por um visitante. Quando retornou trabalho verificou que as idéias decorrentes do sonho - e do láudano - se haviam dissipado.
Restaram os cinqüentas estupefacientes versos que formam o poema.
Interessa-me o momento vivido por Coleridge que transformou o palácio de cal e pedra em transe espiritual, em essências imateriais, em música sublime, que foram os alicerces sobre os quais ele reergueu literariamente o fulgurante palácio de Kubla Khan.
A segunda menção a Xanadu veio para mim em tempos de menino. No Gibi mensal.
Mandrake, o mágico. Um herói das histórias em quadrinhos que combatia o mal utilizando apenas truques e sugestões hipnóticas.
Mandrake vivia em Xanadu - uma rica propriedade mágica que o herói ganhara de presente de um amigo milionário - em companhia de Lothar, um africano fortíssimo, Hojo, o cozinheiro chinês gorducho e faixa-preta de karatê e Darla, a namorada de Lothar.
A terceira vez em que me deparei com o nome Xanadu foi no filme de Orson Welles (1915-1985) chamado Cidadão Kane (1941).
Fabulosa residência de Kane, um magnata da industria editorial, Xanadu superava tudo o que a imaginação exacerbada poderia criar. Era a maior e mais cara construção destinada à moradia de um homem que vivia praticamente só.
Xanadu guardava as obras de arte da coleção eclética de Kane, e também milhares de objetos soberbos frutos maiúsculos da criatividade humana. A coleção de animais transformou o Xanadu proposto por Orson Welles no maior zoológico particular do mundo.
A imagem cinematográfica de Xanadu foi desenhada por Mario Larringa. Misturou épocas e estilos, o castelo do monte Saint-Michel, na França, com uma parte do campanário da catedral de San Marco, em Veneza e adicionou as arcadas do palácio Pitti em Florença, tudo temperado com toques góticos de origem inglesa e com interior medieval italiano.
Entretanto, os Xanadus, reais ou imaginários, não são exceção. Quantos imperadores, magnatas, guerreiros, ou presidentes já sonharam e foram tomados por transe espiritual que os levou a construir palácios de cal e pedra, imaginando-os como essências imateriais, porém cascas sólidas e inexpugnáveis capazes de armazenar e proteger não só imensas quantidades de bens materiais, mas também as ilusões metafóricas ou talvez resguardar a música das esferas... Ou outras alucinações de igual porte, incluindo sonhos e sensações.
Misteriosamente esses arroubos arquitetônicos não gozam de muita popularidade e colecionaram inúmeros inimigos.
Em Minas Gerais, São João do Nepomuceno, Edmar Moreira construiu o seu Xanadu. Um castelo magnífico.
Infelizmente para ele, Edmar Moreira era deputado e os politicos opositores ao saberem da existência do palácio cairam de pau sobre o lombo do risonho castelão.
Edmar Moreira deve ter sofrido o mesmo que os nobres cidadãos de Florença, então próspera e culta cidade da Itália.
Quinhentos e dezesseis anos antes de Edmar Moreira construir o seu castelo, um soturno padre Dominicano, a quem chamavam, em latim de Hieronymus, e em italiano de Girolamo, andava perturbando a vida dos nobres de Florença.
Com preocupação o papa Alexandre VI via as atividades daquele padre atacando a sociedade que julgava imoral através da destruição de objetos.
Florença era uma cidade onde a arte, a literatura e a poesia deslanchavam.
Então o padre Hieronymus (Dominicano), que passou à história sendo mais conhecido pelo sobrenome Savanarola (final do século quinze), inventou as crudelíssimas fogueiras da vaidade.
O encontro final dos objetos com o fogo!
Depois de vociferar contra a Renascença, Savanarola montou grupos de arruaceiros que invadiam casas e palácios, coletando livros e objetos considerados por ele como arte imoral.
Os bandidos batiam de casa em casa, arrecadando objetos propícios à lassidão moral: espelhos, imagens, pinturas, cosméticos, livros, jogos de gamão, jogos de xadrez, violinos e outros instrumentos musicais, vestidos luxuosos, chapéus femininos, obras de poetas, e tudo o mais para ser queimado nas colossais fogueiras, principalmente na Piazza Della Signoria.
Talvez até mesmo magníficas pinturas de Sandro Boticelli e Michelangelo Buonarroti.
Toda a rica presa era empilhada em uma determinada praça de Florença, e, ao formar monte apreciável, Savanarola acendia o fogo e a população assistia, perplexa, a terrível fogueira a queimar não só preciosidades literárias e artísticas, mas também o rico legado cultural da cidade.
Entre os objetos selecionados por Savanarola para serem destruídos estavam as caixas de maquilagem, usadas indiferentemente por homens e mulheres da cidade. E trajes, vestidos femininos e roupas masculinas.
Finalmente o fogaréu era legitimado pelo populacho, que entoava em transe e em uníssono as canções da fogueira.
E dali em diante as suntuosas Xanadus florentinas jaziam mortas como cascas vazias e silenciosas.
Talvez porque existia - e ainda existe - a idéia de que residências suntuosas e incomuns deviam ser necessariamente resultado de roubo ou de furto.
Algumas certamente serão, porém confesso que, mesmo não dispondo de recursos para o cometimento, sonho com uma casa onde férias permanentes com a minha família sejam sempre encantadas.
Matas, picadas para passeios, lagos cristalinos, cachoeiras... piscinas, churrasqueiras, fornos para pizza, campo oficial de futebol, quadra de tênis ... Biblioteca, discoteca ... Cinema privado e enormes coleções de filmes à disposição...Um salão especial para exibição de pinacoteca completa, toda em arte naif ... Bilhar, ping-pong, bicicletas, cavalos mansos e marchadores...
Em outras palavras, eu desejo ser o senhor de um Xanadu particular. Como já informou sensatamente o compositor popular:

“Eu quero uma casa no campo
Onde possa compor muitos rocks rurais (...)”

Acho que não sou o único.
Os exemplos estão por toda parte.
No cinema, a mansão a beira mar do grande Gatsby, com suas festas de arromba, belas reuniões sociais, bailes inesquecíveis.
Na Europa, quatrocentos e cinqüenta fabulosos castelos podem ser alugados. Na Inglaterra, Escócia, Irlanda, Alemanha, França, Itália...
Aqui mesmo, sem sair da cidade de São Paulo, noivos e noivas podem ter seus momentos de senhores de castelos: no Palacio dos Cedros, na Casa de Cultura Julieta de Serpa, no complexo da antiga estação ferroviária Julio Prestes, na Casa das Retortas...
O castelo de Simões Lopes, da Ilha Fiscal, de Itaipava, o castelo do Batel, o castelo do Bivar... Colocam o Rio Grande do Sul, o Rio de Janeiro, o Paraná, o Rio grande do Norte no mapa dos locais onde existem castelos suntuosos.
Entretanto nenhum deles absorveu o espírito de Xanadu como fez o castelo do Zé dos Montes, que fica no Rio Grande do Norte, quase no topo da serra Tapuia.
É o castelo cuja fotografia ilustra este escrito.
Imensa construção erguida entre enormes rochas, parece ter sido concebido e edificado na exata mistura entre arquitetura e alucinação.
A profusão de torres aparentemente inúteis sob o aspecto funcional justifica o destempero necessário para que alguém lance todos os seus dados numa única e louca jogada.
E nem sempre é necessário possuir grande fortuna.
Certos monges budistas do Nepal conseguem construir palácios imaginários riquíssimos em detalhes e conforto.
E quando colocam o produto da mente no mundo em que vivemos, dizem conseguir castelos reais, que todos podem habitar sem suspeitar de que se tratam de tiulpas, isto é, objetos imateriais criados pela mente e projetados no cotidiano das pessoas.
Enquanto arqueólogos procuram o significado histórico, arqueológico, econômico ou funcional das pirâmides, dos Stoneages da vida, dos castelos de Tintagel ou coisa que o valha, estou certo de que a explicação está clara na experiência literária de Coleridge: o que motiva a construção de tais monumentos votivos nada mais é do que a ambição e o sonho alucinante que brota do fundo da alma de certos malucos geniais. Algumas vezes temperados por dose maciça de láudano.
Entretanto castelos podem ser bem mais modestos.
Muitas pessoas habitam apenas quatro paredes e telhado sem forro. Ou ambientes de convivência difícil e hostil. Vocês entendem o que estou dizendo.
Então nada mais compensador para a alma do que combater o marasmo das insípidas tardes de domingo programando e executando viagens encantadas aos shoppings center’s, os modernos Xanadus dos pobres.
Larry Coutinho

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Mãos ao alto! - Crônicas da cidade plural.

Assistindo sozinho o mais recente jogo de futebol entre o Santos e o Flamengo e apesar de não ser torcedor de nenhum dos dois times saltei subitamente da poltrona diante de um lance feliz do Neymar e lancei repetidas vezes os dois braços para o alto, em seguida ao fantástico gol.
O que leva um senhor aparentemente sério com mais de setenta anos de idade a praticar tais passos desconexos e a lançar os braços para cima, feliz como um pinto no lixo?
Até mesmo desmunhecando um pouquinho?
Braços para o alto? Mãos para cima?
-Mãos ao alto!
O bandido levantava os braços em direção ao céu, e pronto, estava dominado, como nos filmes americanos.
Estranho gesto este de levantar os braços!
No código cinematográfico do faroeste significava submissão do mal encurralado pelo bem.
Quem levantava as mãos era quase sempre o bandido, rendido ao império da lei.
Assim era nos filmes do Tom Mix, caubói que surgiu no cinema na década de mil novecentos e dez e começou a ser publicado nos quadrinhos entre 1945 e 1947, numa revista chamada Guri Mensal.
Quando a revista apareceu em sua fase semanal, entre 1954 e 1958, Tom Mix estava novamente entre os favoritos.
Os editores das revistas em quadrinhos exploravam quase todos os heróis tornados famosos pelo cinema: Roy Rogers, Tex Ritter, Rock Lane, Gabby Hayes, Hopalong Cassidy, Durango Kid, Lone Ranger, Cisco Kid, e centenas de outros.
A década de cinqüenta foi fértil em histórias de caubóis. .
Eu acompanhava as aventuras pelas revistas de quadrinhos e às vezes ia apreciar meus heróis em ação nas telas dos cinemas.
Em mil novecentos e trinta e oito, um talentoso ilustrador chamado Charles Flanders fixou-se num personagem definitivo: The Lone Ranger. Apesar de solitário, este mascarado tinha como companheiro o índio Tonto além de seu cavalo Silver, de esperteza quase humana.
Os personagens dominaram as telas e as revistas norte-americanas por longo tempo.
O Zorro deu continuidade à fórmula do cavaleiro mascarado que era promotor da justiça e do amparo aos desvalidos, e já em filmes produzidos por Walt Disney foi ambientada na Califórnia, na época que aquele estado pertencia ainda aos mexicanos.
Don Diego era um nobre que se disfarçava com máscara para combater a tirania dos espanhóis colonizadores, em defesa do México e do povo mexicano.
O índio Tonto desapareceu, e surgiu como símbolo da opressão européia a força relativa do rotundo sargento Garcia.
As histórias do Zorro foram plagiadas: na Argentina o herói apareceu como Poncho Negro, e no Brasil como O Vingador.
Criação original de Johnston Mc Culley, os direitos sobre o caubói foram adquiridos por Walt Disney.
O leitor astuto deve ter percebido: tudo o que estou escrevendo reflete minha inquietação diante da expressão: mãos ao alto!
Hands up! era certamente frase conclusiva.
Emitida a ordem pelo agente do bem ao salteador, ao bandido, ao ladrão de gado ou ao que mais houvesse representando o mal nada mais restava.
Estava descoberto, frito, imobilizado e preso.
Todo o mal acabava com a ordem enérgica:
-Mãos ao alto!
A história não registra nenhum gesto de reação posterior.
Logo após o mocinho beijava a mocinha, às vezes não beijava, e aparecia na tela a expressão The End.
Inútil busca iconográfica foi realizada, na esperança de capturar os primórdios do gesto famoso.
Na Bíblia Sagrada, Moisés levantou os braços para os céus ao receber as tábuas da lei, mas permaneceu a dúvida: tratar-se-ia de gesto de submissão ou movimento natural de quem levanta os braços para segurar algo provindo do alto?
Nos campeonatos mundiais de futebol, a televisão mostra centenas de milhares de pessoas, de todas as raças, elevando os dois braços ao grito entusiasmado da palavra Gol! .
É ali um gesto de alívio e também de comemoração.
A lembrança dos estádios repletos e entusiasmados levou-me ao passado, quando os franceses gritavam “Allez!”, buscando incentivar os seus jogadores, os ingleses proferiam “Go...go...go...” com a mesma finalidade, e nós brasileiros, coerentes com o comportamento surpreendente das torcidas, criamos o neologismo “Aleguá!”, que misturava o “Allez” francês com “Go” inglês e com um “Á” que eu não sei de onde veio.
Aleguá, às vezes reforçado: Aleguá, guá, guá!
E penso também na “Ola”, uma onda de braços que se levantam e abaixam coordenadamente, lembrando o movimento do mar.
Levantar os braços parece igualmente aumentar a altura das pessoas, que explodem de satisfação.
Que belas hipérboles: explodir de alegria, estourar de satisfação, e assim por diante.
É como se fora uma constelação estrangulada, subitamente libertada pelo gol, espalhando estrelas pelo espaço infinito!
É quase um orgasmo!
Pois não é o gol marcado um coroamento feliz da cantada na mulher do vizinho? Com penetração e tudo!?
E um gol tomado?
Deixa amarga impressão de marido enganado!
Salve o hexa!
Em matéria de hipérboles e de metáforas eu hoje estou impossível!
Falando em mulher do vizinho, lembro que nos velhos tempos dos carnavais de salão os carnavalescos solitários costumavam erguer os dois braços enquanto sambavam ou saltitavam marchinhas no democrático terreno dos esfregões corporais.
As mulheres, mais modestas no gesto, mesmo assim ao elevarem os braços levavam com eles todo a musculação peitoral, erguendo seios em apronto agressivo e sensual.
Posso lembrar o olhar direto daquela morena fabulosa, explícita a ponto de provocar imediata ereção, desmanchando-se em dengos, elevando vagarosamente os dois braços lânguidos, sugerindo tudo sem dizer nada.
Ou antes, murmurando maliciosamente a marchinha:
-Menina vai, com jeito vai...
E o caubói, arma em riste, dominando o bandido cruel:
-Mãos ao alto!
É muito sensual isto tudo!
As mulheres diziam que gostavam de pular o carnaval! - enquanto os homens não diziam nada e entravam na folia sempre com desejos secretos de bolinação.
Anos depois, os foliões resolveram abaixar os braços e surgiu a dissimulada “mão boba”, desaparecendo muito do encanto carnavalesco.
Os portugueses e portuguesas de Nazaré, no litoral da terrinha, e de outras regiões de Portugal, ao dançarem o malhão ou o vira, igualmente elevam os braços, gesto repetido pelos ciganos da espanhola Sevilha, ao desfilarem alegrias e bulerias, no tradicional flamengo, movimento que estava sempre a proclamar:
-Castanholas ao alto!
Os homens e as mulheres da Andaluzia sabem despertar a sensualidade de platéias inteiras, naqueles passos, sapateados e sarandeios aparentemente inofensivos.
Haja coração!
Entretanto, ainda em Portugal, no Ribatejo, ao desprezar a ajuda harmoniosa dos braços, o dançarino do fandango enfia os polegares nas cavas do colete, enquanto baila sozinho, numa espécie de masturbação coreográfica, se é que assim posso dizer...
Elevar os braços, portanto, prestam-se mais a ocorrências coletivas.
As orientais protagonistas da dança-do-ventre não só elevam os braços como também centram o foco principal da coreografia nos movimentos serpenteantes das mãos, embora os olhares dos circunstantes masculinos geralmente escorreguem ao longo dos lindos corpos ondulantes, fixando-se no baixo-ventre, coxas e pernas.
A dançarina continua a tentar enfeitiçar com as mãos, os braços alçados, como se não possuísse corpo nenhum do umbigo para baixo.
E todos sabemos que Super-homem levanta os braços para se lançar em vôo.
Entretanto, para mim, elevar os dois braços sempre significou a submissão do bandido à ordem do xerife:
-Mãos ao alto!
Então porque a estranha cena de um velho senhor sozinho em casa a saltar e a gritar, lançando os braços para o alto, girando como um pião sem considerar o ridículo de tudo aquilo?
Um são-paulino festejando gol do Santos?

Larry Coutinho

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O estranho sortilégio da dama em vermelho e branco - Crônicas da cidade plural.

Embora a maioria das mulheres já tenha superado a fase da provocação amorosa ativa para receber de troco e passivamente a conquista, dominação, escravidão mental e morte, periodicamente renasce a dama de vermelho, redescoberta pela literatura, pelo cinema, pelo teatro, pelos compositores, cantores e também pela população em geral.
Porém, o que significa a dama em vermelho?
“I’ve never seen you looking so lovely as you did tonight (...)”
Assim começa a canção “The lady in red” de Chris De Burg, gravada em 1986.
Nada de novo, pois dois anos antes Stevie Wonder havia abiscoitado o Oscar da canção com “I just called to say I love you” (“Eu só telefonei para dizer que te amo”).
Telefonado para quem? Exatamente para a dama de vermelho. Na comédia cinematográfica “The woman in red”, de Gene Wilder, onde Stevie Wonder dividiu a responsabilidade da apresentar a trilha sonora com a cantora Dionne Warwick.
Algumas vezes juntos, outras vezes separados.
Na canção com o título do filme, Stevie Wonder traçou o efeito fantástico que pode causar a mulher em vermelho (vou traduzir dois versos, para maior conforto do leitor):
“A mulher em vermelho/ como um vinho fino ela sobe para minha cabeça (...)”.
Como já sabemos dois anos depois Chris de Burg também observou o efeito provocado na mente dos homens pela dama em vermelho:
“Eu nunca tinha visto você tão bela quanto nesta noite/Eu nunca te vi brilhar tanto/ Eu nunca tinha visto tantos homens te convidando para dançar/ Eles estão procurando um pouco de romance/Dê a eles uma chance(...)”
Ainda assim, nada de novo, pois descobri um filme de 1935 (desenho animado) chamado “The Lady in red”, contendo canção com o mesmo nome, de Allie Wrubel com letra de Mort Dixon. E ainda um filme de Lewis Teague, de 1979.
E uma canção gravada por Xavier Cugat “The lady in red”.
Numa rápida olhada em minha discoteca encontrei álbuns contendo versão nacional da “Dama em Vermelho”, cantada por Bruno e Marrone, Milionário e José Rico, Waldick Soriano, Duduca e Djavan. Gravações onde o sertanejo e o brega se encontram abrigados pelo sortilégio da mulher em vestido vermelho.
Estranha obsessão, e ainda nada de novo.
Porém desta vez o salto territorial e temporal será gigantesco.
Vamos para a Península Ibérica e para a Provence, lá por volta do século doze.
Pincei alguns versos de Guillaume de Machault e, surpreendentemente, lá estava ela: a mulher vermelha e branca.
A poesia provençal (francesa) serviu igualmente às artes peninsulares de Espanha e Portugal e nela uma idéia que estrutura e compõe a mais antiga canção portuguesa conhecida pertenceu durante séculos ao vocabulário do amor, ligado à mulher e à natureza.
O original provençal, o rondeau composto por Guillaume de Machault para sua amada, dizia:

“Blanche con Lys, plus que rose vermeille”.

Aplicada por Paio Soares de Taveiro (1189) a mesma relação do branco-vermelho faz parte da mais antiga canção portuguesa conhecida, que iniciou em Portugal uma série de temas consagrados à mulher branco-vermelha.
Nela, o poeta dirigiu-se à amante do rei D. Sancho I:

“Mia senhor branca e vermelha”...

Paio Soares de Taveirós não economizou tons brancos e vermelhos.
Reproduzimos a segunda estrofe pois há um encadeamento entre dois versos, ocorrido entre o terceiro e o quarto da primeira estrofe e e o quinto e sexto da segunda estrofe.
Ambos os encadeamentos referem-se à vestimenta.
No primeiro caso, à saia, e no segundo, à guarvaia, vestuário da corte, de luxo, provavelmente escarlate, ou vermelho.

Cantiga de amor

“No mundo non me sei parelha,
mentre me for como me vai,
ca já moiro por vós - e ai!
mia senhor branca e vermelha
queredes que vos retraia
Quando vos eu vi en saia!
Mau dia me levantei,
que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, dês aquel dia, ài!,
me foi a mi mui mal,
e vós filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d’haver que por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós houve nen hei
valia d’ua correa.”

( Cancioneiro da Ajuda. Vol. I, p. 82, cantiga 38)

Ver em saia, com uma nesga do tornozelo à mostra!
Enlouquecedora visão cujos efeitos criaram, provavelmente, o cuplê, canção acanalhada que vicejou na Espanha e em outras partes da Europa.
Quem desejar saber mais sobre o cuplê pode encontrar vasta ilustração no filme “O último tango”, onde a excepcional cantora Sarita Montiel ajuda a contar a história de uma cantora cupletista.
Apresentava-se em vestido longo, fendido do lado esquerdo do tornozelo ao alto da coxa. Movimentando-se economicamente no palco, cada mínimo deslocamento da cupletista provocava incrível reação da platéia
Plateia enfrentada por auxiliares ocultos pelas cortinas, os quais manejavam longas e pesadas varas a surrar os braços mais afoitos daqueles que invadiam o palco.
Porém retornemos ao século doze.
Eis que Paio de Taveiros utilizou as expressões “branca e vermelha” para significar, provavelmente, pele alva e faces rosadas.
Entretanto também cabem outros sentidos àquelas palavras.
O verso (branca e vermelha) pertenceu, então, à poesia da corte e por ali permaneceu até que, quase esgotada a fórmula, passou a se usar com mais freqüência na poesia popular, onde conseguiu longa sobre vida.
Gil Vicente serviu-se da frase numa canção:

“Donde vindes, filha branca e colorida?”

A mulher branco-vermelha entrou na maior parte das línguas que faziam poesia.
A formula podia variar, entretanto havia também a idéia principal, de comparação da mulher amada (branca) com a rosa (vermelha), o com as maçãs (também vermelhas), competições estas que ninguém vencia, pois todas, maçãs, rosas e mulheres eram belas e incomparáveis, e essa relação permaneceu.
Assim, entre os gregos, Anacreonte chamou a uma bela rapariga “calçada de muitas cores” e Alceu chama ao pato “que tem pescoço de muitas cores”.
E Safo comparou a sua amada com “Aurora com dedos cor de rosa” ou diz “Luas com dedos cor de rosa”.
Para os gregos, o símbolo do amor não eram as rosas vermelhas: era a maçã - ou ainda o marmelo.
Safo comparou a rapariga solteira à maçã colocada no topo da macieira e que se esqueceram de colher.
Estesícoro nos contou como apareceram maçãs na festa de núpcias de Helena e Menelau; Ibico imaginou um pomar ideal da virgindade onde cresciam e floresciam os marmeleiros; Platão escreveu dois epigramas em que a maçã é o símbolo da efêmera virgindade.
Efêmera virgindade, pois ela deve ser necessariamente provisória...
Sendo a virgindade, a mulher e o amor supremas delícias da vida, quando comparadas às rosas, ao marmelo e às maçãs, como que transferiam aos frutos e à natureza a mesma idéia de excelência. E vice-versa.
Os modernos botânicos, por razões puramente técnicas ( a semelhança entre as flores), colocaram as rosas, as maçãs, as cerejas, as pêras, as ameixas e as amoras como pertencentes à mesma família das rosáceas.
Frutas e flores vermelhas, naturalmente com a exceção das cerejas negras, que quando vermelhas estão verdes!
É bem verdade que as rosas vermelhas também passaram a simbolizar o segredo, além da paixão..
Entalhes nas madeiras dos confessionários cristãos reproduzem lindas rosas, significando que o segredo confessional estará bem guardado.
As prostitutas de Bruxelas mantinham, nas mesas de cabeceiras, botões de rosa vermelha, indicando aos clientes que todos os segredos da relação estariam igualmente em boas mãos.
E existiam também as maçãs de ouro.
Poetas ingleses revelaram a crença de que a maçã de ouro oferecida a Juno por ocasião do seu matrimonio, era uma laranja e, dai, começou-se a associá-la ao casamento dentre as nações civilizadas.
As laranjas foram introduzidas na China pelos portugueses, em 1547, e de lá para cá, as frutas são distribuídas entre os convidados de um casamento como símbolo da felicidade.
Eis novamente a relação entre sexo e natureza: a primeira noite da noiva abençoada pelas laranjas.
E o costume, levado à Europa pelos cruzados, de enfeitar a noiva com flores de laranjeiras.
E, em algumas grinaldas que a noiva trazia, havia as palavras: “Sê fecunda como a laranjeira”.
Socialmente, a virgindade perdida entre as flores de laranjeiras difere profundamente e carregam outros significados, opostos às virgindades roubadas sobre os verdes pinhos das canções medievais ibéricas.
Entretanto o culto às maçãs não foi privilégio grego.
O português Gil Vicente colocou num dos seus versos o canto de uma jovem dirigido ao amado que conta como ele lhe manda maçãs de ouro:

“Um amigo que eu havia
mançanas d’ouro m’envia. Garrido amor!”

A segunda estrofe repete a primeira, porém a terceira traz algo de novo:

“Mançanas d’ouro m’envia:
a milhor era partida.
Garrido amor!”

A melhor das maçãs estava partida!
Indicava que a resistência da amada tinha sido vencida.
Lembrando Platão, para quem a maçã é o símbolo efêmero da virgindade, então os versos de Gil Vicente passaram a dizer mais do que apareceu à primeira vista: “a milhor era partida.”
Assim sendo, não só o amor imaginado, mas também o amor físico ligou-se à natureza, indissoluvelmente.
A canção medieval portuguesa não teve escrúpulos em falar da perda da virgindade de uma mulher.
Simbolizou-a pela perda de um anel.
Se a perda estiver ligada à floresta, ou ao pinheiral, tanto melhor. A bondade e a poesia que emanam dos bosques suavizam o momento único.
O poeta Pero Gonçalves de Portocarreiro escreveu uma canção sobre o assunto:

“O anel do meu amigo
Perdi-o so-lo verde piõ,
E chor’eu bela”

E na terceira estrofe a mulher lamentou a perda:

“Perdi-o so-lo verde piõ,
Por en chor’eu dona virgo,
E chor’eu bela”.

Encontramos no Brasil, em pleno século vinte e um, certa trova popular que assim começava:

“Perdi meu anel de prata...”

Eu utilizei o verso popular como inspiração para uma trova que apresentei em certa ocasião. A estrofe resultante foi bastante festejada. Não sei se tomada pelo seu sentido mais culto e avoengo:

“Perdi omeu anel de prata
Sobre a relva do jardim.
Agora o amor me mata
Ou matam o amor por mim”.

A perda da virgindade não era assunto apenas das solteiras. Referia-se do mesmo modo às casadas.
No Portugal medieval muita lamentação foi escritas sobre a despedida da moça da sua virgindade.
E também na Grécia.
Safo escreve uma canção para duas vozes.
A feminina, da noiva, e a de um cantor que faz o papel da virgindade:

“A noiva: Ó virgindade, ó virgindade, para onde fugiste e me deixaste?”
“A virgindade: Nunca mais voltarei. Nunca mais voltarei a estar contigo”.

Assim sendo, é natural que muitos católicos que convivem conosco em nosso tempo, atribuam a expulsão de Adão e Eva do Paraiso, pelo irado Senhor, ao consumo do pomo de ouro, fruto da árvore proibida, por simplificação e simbolismo, a maçã. Eis ai, novamente, a mulher branco-vermelha já num outro contexto.
Este contraponto entre natureza versus libertação sexual remete e reforça a relação medieval da mulher branco-vermelha, mulher e rosa, fêmea e natureza.
Relação aparentemente complementar mas que pode, como veremos, significar visão dual do universo, dividido não só mas também pelos indígenas brasileiros em duas metades, cada uma delas congregando forças opostas.
Entretanto pode uma cor despertar sentimentos por ela mesma?
Ocorre-me o exemplo da bandeira do Japão: o círculo vermelho sobre campo branco.
O círculo traçado sobre o branco nada mais é do que uma forma denotadora dela mesmo. Entretanto, pintado de vermelho, conotava durante a segunda guerra mundial sentimentos conflitantes embora complementares, provocados pelo círculo vermelho em campo branco. Nos japoneses a idéia de orgulho nacional. Porém, para os norte-americanos que perderam seus filhos em capo de batalha, conotava provavelmente ódio profundo
Vejamos outro aspecto da cor: uma pequenina mancha vermelha sobre o branco lençol.
Dos poetas modernos, lembramos Bertold Brecht, no “Salmo na Primavera”:

“Agora estou à espreita do Verão, rapazes.
Compramos rum e colocamos cordas novas no violão.
Camisas brancas ainda precisam ser arranjadas.
Nossos membros crescem como a grama em junho
E em meados de agosto desaparecem as virgens.
Nessa época o prazer aumenta desmedidamente.
A cada dia o céu se enche de um brilho suave, e suas noites roubam o sono”.

Antes de conhecer o poema de Brecht, compus, no final do último verão, uma versão tropical do “Salmo”, um dístico ao qual dei o nome de “Primeiro Canto de Verão”:

“Por onde andarão, em fevereiro,
Todas aquelas virgens de janeiro?”


A mulher vermelha não é apenas rosas e maçãs e sua virtude não se resume à defesa imposta pela virgindade.
Há nos conceitos branco e vermelho, a idéia da acessibilidade opondo-se à da impossibilidade amorosa, pois em certos períodos do mês a mulher branca torna-se, literalmente, vermelha, e segundo alguns, impedida para o amor físico.
Acessibilidade ou antinomia?
Ainda aqui, nada de novo.
Distantes da elevação natural da cultura européia, e não contaminados ainda pelas idéias daquele continente, indígenas sul-americanos, especialmente os brasileiros, revelaram aos estudiosos a posição histórico-cultural da organização dual de suas sociedades, cujos aspectos ideológicos das dicotomias e os pares antagônicos se apresentavam em traços firmes.
O sol e a lua, o dia e a noite, as cores vermelhas e pretas (corantes naturais retirados das plantas chamadas urucum e jenipapo).
Algumas tribos relacionavam o sol com o leste e a lua com o oeste, outras, o sol e a lua se ligavam com o sul e o norte e, a partir dai, contrastava aqueles pontos cardeais, o norte literalmente contra o sul.
Surgiram então os conflitos tipo seco-molhado ou o branco-vermelho dos Mundurukú.
Talvez a mesma relação branco-vermelha dos trovadores medievais, um macrocosmo presente não só nas relações homem-mulher - opostas e complementares.
Trata-se, na verdade, de antinomias, contradições entre princípios e leis no que diz respeito à imagem do mundo, que levavam naturalmente às organizações duais de certas sociedades.
A polaridade “masculino-feminino” surgiu no testemunho de Garcilaso de La Vega, ao tratar de Cusco, capital do império inca, quando afirmou que as divisões da cidade em duas metades - Hanan e Hurinsaya, servia para delimitar duas unidades exógamas.
Era uma cidade alta, com um rei, e uma cidade baixa, com uma rainha, cada qual com o seu séqüito.
Os próprios conceitos de alto e baixo se afastavam e se inter penetravam, numa espécie de jogo primitivo, um dualismo filosófico, bem exemplificado pelos conceitos de céu-inferno, bem-mal, bom-mau, ou branco-vermelho.
Entretanto as dualidades vão além de conceitos tão simples quanto os citados.
Certa aldeia de índios aimaras era dividida em duas metades, exógamas, chamadas de Aran-saya (norte) e Wanan-saya (sul).
Tratava-se de algo muito diferente das separações geográficas.
Eram oposições tanto quanto bem-e-mal.
Cada parte da aldeia possuía sua própria cultura, adorava deuses diversos e congregava populações de origens dispares.
Assim sendo é difícil admitir-se que as preferências modernas por certos times de futebol estejam em razão direta da habilidade de seus jogadores.
A dualidade Palmeiras-Corintians vai além, como cada um de nós poderá compreender se refletir com mais vagar sobre o assunto.
As recentes eleições presidenciais no Brasil mostraram a profundidade da separação entre as duas metades do país, no caso e ironicamente, branco-vermelho.
A idéia de que todos os casamentos eram endógamos quando os indivíduos se casavam sempre dentro de sua classe ou casta em uma mesma aldeia costuma empalidecer diante de certos conceitos bem claros nas organizações duais das tribos de caçadores-lavradores.
O homem é sempre o caçador e lavradora a mulher.
O casamento (exógamo, quando o individuo se casa com membros de outras aldeias, classes ou clãs) entre os dois costuma reforçar a idéia dualística do mundo.
Uma dualidade que os Mundurukú, mestres em dicotomias tipo sol-lua, direita-esquerda, sul-norte, e pakpekàne (vermelhos) - ririt’àne (branco) determinam não só as metades exógamas, mas também o dualismo das cores, presentes nos poemas medievais europeus, nos quais, a relação branco-vermelha passou num salto do vocabulário amoroso para o piedoso terreno religioso.
O mesmo Gil Vicente serviu-se das duas palavras para dirigir-se à Virgem Mãe:

“Branca estais e colorada,
Virgem sagrada!”

As frases tomaram forma mística e adquiriram nova importância, na relação agora religiosa com a natureza.
Elas encheram a poesia, porque toda ela é em louvor da Virgem, considerada roseira, cuja rosa, Cristo, dela brota.
A Rosa Mística.
Então, e só então, o poeta italiano ainda medieval, Jacopone de Todi, mostrou o seu toque de gênio quando relacionou inovadoramente as cores branca-vermelha em “La Crocifissione”, em que a Virgem chora o Filho e lhe diz:

“Figlio bianco e vermiglio
Figlio senza simiglio...”

As palavras bianco e vermiglio adquiriram aqui novo significado trágico, por se referirem ao corpo morto e branco e às chagas vermelhas de sangue.
Então, a dualidade branco-vermelha confundiu-se com as noções de ser-e-não ser, adquirindo significação universal e fixando as únicas dicotomias verdadeiras e definitivas: vida-e-morte!
Dualidade que obriga a diferentes tomadas de posição pessoal quando o indivíduo de determinada sociedade se vê diante de cada uma delas, separadamente.
Momentos em que a literatura e o mito assumem os seus verdadeiros destinos, e o logos (razão) retira-se prudentemente diante do mistério.
Será que consegui ligação literária entre o sortilégio da mulher vermelho-branca, o sexo, a natureza, o sagrado, e o universo masculino, como era meu objetivo inicial?
De qualquer maneira, observando há mais de cinqüenta anos jamais vi qualquer mulher vestindo vermelho e branco. E tenho percebido pelo ouvi-dizer que tais recursos cromáticos aplicados às vestimentas femininas vêm rareando através dos séculos.
Alguém pode me dizer qual foi a última dama em vermelho com quem conversou e conservou na memória, onde ela certamente ainda estaria, pois como lembrou o Stevie Wonder: “A mulher em vermelho/ como um vinho fino ela sobe para minha cabeça (...)”?
Acho que a dama em vermelho ajudou a fixar e ao mesmo tempo procurou aproximar, desafiadoramente, dois universos diferentes: o masculino e o feminino.
Talvez ao mostrar, metaforicamente: - Eu, mulher, estou aqui, em todo o meu esplendor! Venha para cá, se conseguir!
Quanto ao vestido vermelho aplicado à política é uma outra história que fica para depois.
Também estou tentando reunir idéias e fatos sobre os sapatos de saltos finos e altíssimos, as meias de seda, as mini-saias, principalmente quando esses elementos se juntam numa mesma perspectiva agressiva.
Ufa!



Larry Coutinho