domingo, 19 de novembro de 2017

                                   ILHABELA, PEDRAS, ÁGUAS E VEGETAÇÃO.
       











INTRODUÇÃO





    Em pleno século vinte e um, mais de quinhentos anos depois do descobrimento oficial do Brasil, ou se o leitor desejar oitenta séculos após o homem lançar nas águas a sua primeira canoa de tronco escavado, Ilhabela continua a guardar mistérios e deslumbramentos.
Quais mistérios serão os mais relevantes?
Serão algumas missas rezadas em latim macarrônico? Veremos as casas e as armadilhas para peixes cercadas por varas de bambu? Terá sido mantida a crença nos seres encantados, na comunhão com o mar ou no enigma do dia seguinte regido pela lua? E no lobisomem? O que foi o limo?  Qual ouro colonial tem probabilidade de ser encontrado por caçadores de tesouros: ouro em pó, em pepitas ou em barras com cunho da Coroa portuguesa? É verdade que a Ilha abrigou homens pré-históricos durante milênios? E o primeiro grupo étnico do povo genuinamente brasileiro, os caiçaras? O que é a Tontinha? E o vento do padre? No sul da ilha quem ainda se lembra do frio do Rosa? Quais as praias que guardam as casas de canoa?
As trilhas e picadas antigas, a onipresente, porém inatingível floresta tropical, os pássaros álacres e coloridos, as feras e serpentes ocultas pelas folhagens e apenas pressentidas, o murmurar dos rios e regatos, o estrugir das cachoeiras, as capelas fechadas guardando altares e santos imaginados pela fé dos devotos, a visão desafiadora dos altos picos solenes, as praias fáceis, as difíceis, e as impossíveis de serem atingidas, as águas e as pedras que cantam afinadas no timbre dos sinos, a enorme sombra dos homens dos sambaquis a preencher o passado das praias, das costeiras, dos manguezais e das lagoas, a busca da sonoridade perdida e das danças ingênuas, do timbre da viola, do gemer da rabeca, do ritmo do violão, da timba, das caixas, do pandeiro, do cavaquinho, do bandolim, do titilar dos triângulos, da percussão dos tamancos portugueses de saltos de laranjeira, da centenária congada de São Benedito, do mandango, um caixote sonoro movido a tamancadas dos calçados vestidos nas mãos, das coreografias da canoa, da chamarrita, da cana verde, da dança do boi, da marrafa, do chiba, que pode ser  xiba, cateretê, catira e talvez seja branle, falando francês medieval e lembrando da velha Cassandra, das miudezas nos intervalos, da marrapaia atando quizos nos tornozelos e trazendo lembranças bolivianas de vilancicos populares de Chiquitos, do perfume da cachaça a pingar preguiçosamente nos alambiques do tempo,  do Azul Marinho e do arroz com lambe-lambe, tudo isso contribui para aprofundar e aumentar o valor do desconhecido, do que deve ser descoberto.
Caminharam pelas surpreendentes picadas da ilha expedicionários, piratas, bucaneiros, corsários, marinheiros de várias nacionalidades, padres franciscanos, beneditinos, militares de muitos uniformes, jesuítas, contrabandistas, aventureiros, mergulhadores, indígenas, os misteriosos homens dos sambaquis, os caiçaras e gente comum.
Muitos deles apenas passaram pela ilha, outros ficaram para sempre.
E deixaram para o visitante a tarefa de descobrir o caiçara e sua cultura.
Será que existe a canção dos cortadores de pedras, dos aplicadores de folhetas ao forrar os caminhos e pátios da ilha?
O mito da ilha também fala em tesouros ocultos, naufrágios e mistérios ainda não desvendados.
Nos arredores de Ilhabela aconteceram diversos desastres marítimos. Mais de cem, lembra a história.
Muito mais de cem, alerta o mito e a tradição oral.
Quando começou a navegação pelas águas da ilha?
A ilha da Vitória, a mais distante do arquipélago, guarda vestígios de antiga ocupação indígena, sambaquis (concheiros) e cerâmicas.
Muito antiga!
Pesquisas arqueológicas recentes concluíram que pelo menos quatro ilhas do arquipélago foram habitadas pelos homens pescadores e coletores do litoral, de origem pré-histórica e certamente pré-cabralianos.
Com tanta descoberta a ser feita, esta SEPARATA nasceu com vocação interativa.
Registram algumas certezas, outras tantas incertezas e ainda deixa espaço para o leitor diligente acrescentar a sua descoberta.
Fruto de pouco mais de vinte e quatro meses de observações presenciais, de descobertas estonteantes, do desvendamento do potencial ainda não explorado da ilha, nada aqui é definitivo e tudo pode ser alterado.

                                                      



 Larry Coutinho