Reflexos
O vidro e a luz
que reluz
transparente,
são caso de amor
permanente.
Reflete o raio de sol
no vidro da janela
e rebate
aumentado,
entortado,
na parede branca
do quarto da donzela
in “Versos de vidro”
Yral Somar
Ladeira da rua Tabatinguera, que liga a praça João Mendes à várzea do Glicério.
Vidros e perfumes em profusão.
E essências para abastecer os perfumeiros da cidade.
Sábado, alguns minutos depois do meio-dia.
São tantos os fregueses que mal consigo espaço dentro das lojas especializadas para fotografar as vitrines em contra-luz.
Ando por ali em busca de duas igrejas: a da Nossa Senhora da Cabeça, ou do Menino Jesus e Santa Luzia, e a Igreja da Boa Morte.
Entretanto a vidraria e as essências conseguem chamar minha atenção.
São Paulo tem especializações, e tratarei delas oportunamente: vidros e essências na rua Tabatinguera; material eletrônico na Santa Efigênia; ferramentas na Florência de Abreu; panelas e artefatos para cozinha na rua Mauá; vestidos de noiva na rua São Caetano; roupas para bebê, na rua Oriente; roupas para adultos na José Paulino; comércio popular na Vinte e Cinco de Março; madeiras na rua do Gasômetro; artigos orientais na Galvão Bueno; e assim por diante.
Entretanto é sábado e estou na Tabatinguera contemplando a profusão de reflexos e formas e percebendo aromas inusitados.
Quero ir mais fundo na pesquisa mas não sou atendido pelos atarefados vendedores.
Voltarei num dia mais calmo.
Ladeira da Tabatinguera, reino insuspeitado dos reflexos e dos aromas!
Tabatinguera: Uma das mais importantes ladeiras do São Paulo muito antigo. Por ela descia-se para o rio Tamanduateí, para atividades e lazer ou para retirar um certo saibro branco que servia para a construção das casas. No século XVIII abrigou a casa da varíola. Um prédio utilizado para isolar os enfermos na época da epidemia. Em 1830, chamava-se Rua do Matemático. A Guerra de Canudos patrocinou enorme mudança nos nomes das ruas de São Paulo. A denominação de rua Moreira Cesar foi inevitável, mas não foi ali. Ali usou-se o nome rua Coronel Tamarindo ( o famoso coronel que dizia aos seus comandados: - Em tempo de muricy, cada qual cuide de si!). Em 1899 a rua recebeu o nome de Doutor Rodrigo Silva. Mas só metade da rua. A outra metade não tinha nome, era conhecida como “... a rua detrás da (igreja) Boa Morte”. Só em 1914 a ladeira recebeu o nome de Tabatinguera, denominação tupi que se referia ao barro, talvez o saibro branco que era colhido na várzea do rio Tamanduatei, no pé da ladeira. (Depois o nome Doutor Rodrigo Silva foi aplicado a uma rua próxima.)
Larry Coutinho ( foto e texto)
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